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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

ACIDENTES ACIDENTADOS AINDA ME DEIXAM CHOCADO

Acidental
(Hugo Martinelli)

Saio na varanda e olho pra fora
E ali tão mundo, quanto mundo afora
De repente me lembro do quanto tudo é efêmero
Uma efemeridade de grau, número e gênero

Me lembro dela, menina atravessando a rua
Um passo adiante em uma vida tão crua
Onde será que estaria indo
Quase pude sentir sua vida se esvaindo

Em não menos que um segundo
Mais um som estridente naquele mundo
Três passos a menos e tudo seguiria normal
Uma distração a menos e o curso seguiria igual

À minha volta olho insistentemente
Com uma sensibilidade assim latente
Um momento qualquer, uma pessoa qualquer
Será que é isso mesmo que você quer

Porque será que me preocupo
Ou disso ainda me ocupo
Aquela cena não me sai da cabeça
Do meu lado um choro como numa peça

De tão real era quase cruel
Seu corpo arremessado como fosse papel
Hora, minuto, segundo e lugar errado
Será que seu destino estava marcado

É um desses momentos
Um desses tormentos
Que às vezes nos permite
Fazer perceber que nosso coração palpite

Enxergo assim a efemeridade da vida
A fragilidade vívida vivida
O exagero de uma fração de segundo
Que reduz a zero nosso tempo no mundo

Porque somos tão imundos
Em momentos tão agudos
Seguimos andando e vamos focados
Sem ao menos lembrar e sermos tocados

Ou era o que era pra acontecer
Pra eu estar aqui escrevendo pra você
Sim, você, continue a ler
Não pense que não tem nada a ver

É um sem tanto de porquês
Que nos deixa assim a mercê
De uma existência e um viver
Que a cada respiro preciso saber

Eu sempre me senti de fora
Tropeçando pela vida
O momento seria agora
E ela ali no chão, uma desconhecida

Escrevo pra lembrar um momento
Momento que cabe dentro de um segundo
Segundo que me parecia quase fúnebre
Em um movimento fui tomado por um contentamento alegre

Num rompante ela se moveu consciente
Tudo o que me fez ali ciente
Da tristeza que havia me tomado assim
Se esvaindo diante da beleza da vida que retornara diante de mim

E o fim,
de repente não é o fim
Nem pra ela
Nem pra mim

quarta-feira, 10 de julho de 2013

SALMO QUE NÃO ME SALVA

Distante Beleza
(Hugo Martinelli)

Ainda que caminhe sozinho
pelo vale da sombra do amor,
nada temerei.

Sigo meu caminho
De tristeza e de dor,
Inerente ao que faço, ao que sou, ao que escolherei.

Dizem que entre todas as belezas,
A mais bela,
É aquela cujo perfume podemos sentir,
Cujo sorriso podemos apreciar,

A suavidade da voz nos acaricia os ouvidos,
Aguça os sentidos,
Mas é apenas para quiçá ser contemplada com um olhar,
Jamais a poderei tocar, ou teu sorriso beijar.

Triste é o meu olhar,
Sempre de canto, cedendo aos teus encantos,
Calado como um sufocado pranto,
Que pela pequena gota da lágrima grita para libertar
O sentimento de um momento que ela preferiu calar

Sozinho estou e sozinho vou
Pra onde eu não sou
Pra onde não há paixão nem amor
Acho que não tenho pra onde ir então
É que sem enganação, disso vive a desilusão desse estúpido coração!

sexta-feira, 7 de junho de 2013

AMOR QUE NÃO FOI AMADO, FICOU NO PASSADO


Um dia desses, algo do amor
(HUGO MARTINELLI)

Enquanto uma bela música toca,
Minh’alma sufoca
Desesperada por procurar
Algo que não se permite encontrar

A música acabou
O lugar se aquietou
Apesar de que
Nada se pode fazer

O silêncio parece maior
Que os pequenos barulhos lá fora
A voz emitida de mim mesmo
Nem posso escutar agora

Faltam-me as palavras,
Até mesmo os sons
Ainda que não meus, em todos os tons
Pudera que fossem teus

Esse algo já pode ter sido encontrado
Só que estando nesse estado
Paralisado, sensibilidade faltando
Quase que esgotando, não o querendo encontrar

Não mais,
Ou devesse tentar
Matar essa vontade curiosa que está me matando
Do que estou afinal falando?

O que talvez não devesse
Hoje já fiz
O som que tanto quis
Me deixou um tanto mais feliz

Algumas horas já se passaram desde então
Já não mais estou ouvindo aquele doce som
Que acredito, tenha ficado feliz em saber
Que falta vai me fazer

Olho pela janela
E atrás da minha transparente imagem
Vejo nos frios pingos da chuva
A bela imagem daquele som

Me jogo no canto
Lembro da música, canto
E pronto, quando me vejo
lembro que sou eu sentindo saudades

De algum dia naquela pequenina cidade,
Onde o som não era apenas tom
Todos os tons daquele mesmo som
Era a mais bela imagem diante dos meus olhos

É o algo que foi encontrado
Não tente entender
Nem se esconder
Se não o procurar, ele acaba encontrando você

quinta-feira, 23 de maio de 2013

NO INÍCIO DO FIM ESTAMOS SEMPRE NO MEIO


Algumas vezes voltamos pra casa no fim de todos os ocorridos do dia e é inevitável uma tristeza que não se explica, uma solidão. Não por ser uma tristeza de imensidão tamanha que não lhe permitirá mais apreciar a vida, mas sim aquele momento único que te faz pensar e refletir sobre a vida e os seus feitos. É uma perspectiva completamente maniqueísta, mas creio que é preciso às vezes nos permitir sentir tristes para podermos depois ter capacidade plena de apreciar com verdade os momentos felizes. Assim, deixo com vocês meu mais novo trabalho. Espero que gostem!

No fim
(Hugo Martinelli)

É que no fim sempre estou só
É uma solidão de dar dó
É saudade de pai, mãe e colo de vó
Minha cabeça chega dar nó

No fim do final sou só eu sozinho outra vez
É uma tristeza infindável
É uma possibilidade de transparecer através
É um olhar lá no fundo da paisagem o inefável

É no fim sempre o princípio do início
É o meio do momento propício
É que sempre sou eu desacreditado sem malícia
Que mal há em querer apenas uma carícia

É o calor do vento frio que me atravessa
É o silencio de nem mais uma conversa
É o meu eu que não acredita nem mais em mim
O que será então que estou fazendo aqui

É que são tantas dúvidas
É que são tantos recomeços
É um saber não querer mais lidar com tropeços
Minha cara tão sem graça e pálida

É o lugar certo, a hora certa e as pessoas
É que nem sei se esse fim é somente começo
É um não saber mentindo que tô de boa
Vai parando por aí com tanto apreço

É que olho as coisas mais lindas beleza não vejo
É que esse meio começou e pago o preço
É que nas mais torpes idéias velejo
O frio gelado me abraça e não me aqueço

É que sofro assim talvez porque mereço
É um bicho complicado pelo avesso
É num lindo sorriso que me entristeço
Não sei nem mais com o que pareço

É sentado aqui olhando a esmo
É questionando o que faço de mim mesmo
É um banco de madeira num cenário fantástico
Que quase me chamo de lunático

É que no fim, todo fim é fim
É o fim não se sabe se de mim
É uma graça quase arlequim
Me faço sentir tão banal assim

É uma redundante tristeza triste, triste fim
É uma ausência de tudo que me faz feliz
É que no fim, todo triste fim é triste
Mas não tão triste que não possa ser alegre

No fim, é o fim...